Os Ziskisitos e o Quadro Roubado

Abaixo a segunda parte do capítulo 2.

– Luiza anda, fecha a boca, a fila andou. – cochichou Jaque.
Luiza tomou um susto, ficou muito vermelha vendo o sorriso de Raul para ela e começou a andar.
A volta na montanha-russa foi uma delícia, eles adoraram principalmente os loopings e enquanto Luis e Kiko entraram na fila para ir de novo, as meninas foram até a lanchonete tomar um refrigerante.
O parque estava muito cheio e uma grande algazarra tomava conta do local com vários grupos de jovens passando correndo e falando ao mesmo tempo. Com grande dificuldade conseguiram uma mesa para sentar a um canto da lanchonete. Jaque começou a observar as pessoas, que sob a luz das tochas pareciam todas muito suspeitas.
– Ah, mas ele é um fofo, não é? – perguntou Luiza, que com certeza não estava pensando o mesmo que Jaque.
– Ele quem?
– O Raul, ora! Quem mais seria? Aquele monstrão que não. – disse Luiza apontando um rapaz muito alto, vestido de trapos e com várias facas enfiadas pelo corpo.
– Tá! E por que você não fala com ele? Fica muda!
– Não consigo. É só ele aparecer que minha voz some.
– Hum. Se oferece para dar aulas de matemática para ele. Eu ouvi dizer que ele periga repetir de ano se não melhorar suas notas no próximo semestre.
– Ia ser legal. E a coragem?
– Fora que ele é mais velho que a gente, somos crianças para ele.
– Ah, só um ano e ele também é criança!
– Este que é o problema, não somos crianças, somos pré-adolescentes.
– Ou seja; nem criança, nem adolescente.
– É o melhor dos dois mundos.
– Tá bom, então. A gente acredita. – as duas começaram a rir e neste momento chegaram Kiko e Luís, cada um carregando um pacote de batata-frita em uma mão e um refrigerante enorme na outra.
– E aí do que as duas estão rindo? – perguntou Luís.
– De nada . – responderam as duas juntas.
– Vocês não sabem o que aconteceu. Sabem aquela garota da nossa sala, a Cecília? – depois das duas dizerem que sim, Kiko continuou… – Então, no segundo looping ela vomitou e como estava de ponta cabeça caiu tudo no pessoal que estava no carrinho de baixo. Várias garotas começaram a passar mal e tiveram que parar a montanha-russa antes da última volta para limpar.
– E vocês não adivinham na cabeça de quem caiu o vômito. – Luís não conseguia nem falar, de tanto rir.
– No cara que gozou com a nossa cara na fila, o das espinhas. Foi hilário. Ele saiu todo sujo, correndo para o banheiro.
– Eu não vou me esquecer desta cena nunca. – os dois começaram a rir até chorar.
– Mas que nojo! Falou Luiza, também rindo muito.
– Foi o legítimo castigo que veio do céu. – completou Kiko.
– Que foi Jaque não achou engraçado? – perguntou Luís observando Jaque que olhava fixamente para outro ponto.
– Não é isso. É que acabei de ver uma coisa engraçada.
– O quê? – perguntaram os três, esquecendo a cena da montanha-russa e virando para olhar na mesma direção que Jaque.
– Sabem aquele cara que eu bati quando chegamos?
– O que tem? – perguntou Luís colocando uma grande porção de fritas na boca.
– Ele estava alí conversando com o professor Celso. Pelo menos parecia o professor Celso.
– Qual? O professor substituto? O gago? – perguntou Luiza.
– Por que você cismou com o professor Celso hoje? – perguntou Luís.
– Cismou? Por quê? – Luiza estava sem entender nada.
– Eu não cismei com ele.
– Tá.
– Vocês dois podem dizer o que está acontecendo. – Luiza já estava com ar aborrecido.
Enquanto Luís explicava a história que acontecera a tarde, de alguém conversando com a árvore, Jaque levantou e foi andando até a frente da lanchonete olhando para o outro lado da rua.
– Não tem ninguém lá.
– Ai, vocês me assustaram. – disse Jaque levando um susto quando os três apareceram de pé ao lado dela.
– Agora não, mas tinha. Eles entraram lá.
– Eu acho que este lugar está te influenciando. – disse Kiko, olhando gozador para Jaque.
– Pode ser, mas eles entraram lá e é lá que nós vamos.
– Onde? No Salão dos Espelhos? Que coisa chata! – Luiza tentou reclamar, mas Jaque já seguia na frente, Kiko e Luís dando de ombros foram atrás, não tendo outra escolha também foi.
Não tinha fila para entrar, apenas uma moça fantasiada de senhora Frankenstein na porta e um horrível corcunda assustando os passantes. Quando iam passar perto dele Luís virou para Luiza e avisou:
– Meu braço ainda está anestesiado, nem vem! – Luiza passou correndo e foi agarrar o braço de Kiko, que deu um grito.
– Viu? – falou Luís olhando para Kiko rindo.
– Chiu, vocês. Vamos entrar.
– Tá bom, Jaque. Parece que estamos na escola. – falou Luís.
O Salão dos Espelhos era um labirinto com vários espelhos, que deixavam as pessoas mais altas magras, gordas, achatadas ou completamente distorcidas. Os quatro foram andando dando risadas de suas aparências, gozando um do outro e admirando seus corpos diferentes.
Na frente de um dos espelhos Jaque parou por mais tempo, seus amigos entraram por outro caminho e ela ficou sozinha nesta parte do labirinto. O espelho a deixava magra e alta, parecia sua irmã e ela estava embevecida admirando sua imagem, de como poderia ser, quando ouviu vozes atrás do espelho.
– Eu ainda não achei. Estou procurando. – Jaque não conhecia a voz e tentou prestar mais atenção
– Como ainda não achou? Está na escola, eu já disse.
A segunda voz era conhecida, mas Jaque não conseguiu identificar e ficou mais curiosa. O que estava na escola?
– Precisa pegar logo, antes que eles achem. Estou sendo seguido. Agora…
Jaque tentou correr para ouvir mais, mas as vozes sumiram. Percorreu as outras ruas do labirinto e acabou voltando para frente do espelho onde ouvira as vozes pela primeira vez, mas não conseguiu ouvir mais nada. Estava lá parada muito intrigada, quando Kiko chegou atrás dela.
– É por isso que ficou aqui dentro? – Kiko apontava para o espelho, que deixava Jaque magra e alta.
Ela nem se lembrava mais do espelho. Saiu do labirinto atrás de seus amigos, que a olhavam curiosos, ela estava com uma cara engraçada. Do lado de fora contou o que ouviu, as vozes dos dois homens e que uma parecia ser conhecida. Os quatro ficaram imaginando o que poderia estar escondido na escola e em qual escola. Existiam muitas.
– Mas se era o professor Celso, só pode ser na nossa escola. – disse Luiza
– A voz era dele? – perguntou Kiko concordando com o raciocínio de Luiza.
– Parecia, mas não estava gago.
– Ele pode só ficar gago quando está nervoso. Já li sobre isto. – falou Luís com ar muito sério.
–Tá. Mas ele é professor, ia ficar nervoso dando aula? Porque ele é gago na escola, até falando com os professores.
– Hum. Luiza você já imaginou enfrentar uma classe cheia? Eu ficaria muito nervoso. Aposto que até gago.
– Aposto que sim, Kiko. – concordou Luiza rindo.
– Gente, onze horas, hora de ir embora. – avisou Luís olhando para o relógio.
– Nossa nós não fizemos nada, o tempo voou. – reclamou Kiko, enquanto caminhavam para a portaria do parque.
Chegando lá pararam olhando a irmã da Jaque dando um beijo de cinema no Paulinho. Por um tempo ela não reparou que eles estavam lá parados rindo baixinho, mas abrindo os olhos viu os quatro olhando para ela.
– Já chegaram é? – perguntou a garota com desdém.
– Não. Ainda estamos lá dentro. – respondeu Jaque.
– Não liga. É minha irmãzinha. Ela é muito boba. – disse Alice olhando com olhos melosos para Paulinho, depois deu outro beijo no seu novo namorado e saiu andando para fora do parque, seguida por Jaque e seu amigos.
– Vai… não fica assim. Você sabe que não tem a mínima chance. É até ridículo. – Luís tentava consolar Kiko, que estava desconsolado depois de ver o beijo da Alice e do Paulinho.
Os pais de Jaque já estavam esperando por eles. Quando iam entrar no carro sua irmã chegou perto dela e sussurrou:
– Não esquece, nós ficamos juntas todo o tempo. – Jaque olhou para ela sem dar resposta e entrou no carro. Luiza percebendo aquele silêncio, Jaque nunca deixava de dar resposta a sua irmã, perguntou:
– Que foi? Tá pensando em quê?
– No que está escondido na nossa escola.

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