Os Ziskisitos e o Quadro Roubado

Aqui estou postando o segundo capítulo, porém em duas partes. Abaixo a primeira parte.

Capítulo 2

O Salão dos Espelhos

Jaque, Luís, Kiko e Luiza estavam espremidos no banco de trás do carro tentando não encostar muito na adolescente emburrada, que olhava para eles com ódio. O carro estava parado na entrada do parque e os pais de Jaque passavam as regras da noite.
– Alice, você é a mais velha. Fique de olho na sua irmã e nos amigos dela.
– Mãe, eu vim aqui me divertir, não servir de babá para um bando de crianças.
A mãe deu um olhar mortal para a garota, que resolveu concordar.
– Está bem, vamos logo que já estou atrasada.. – Alice saiu do carro e ficou na porta com ar de tédio esperando os quatro saírem.
– E vocês quatro, tomem cuidado nos brinquedos e qualquer problema me liguem. Jaque, você trouxe o celular?
– Trouxe mãe. Não se preocupa, tá?
Saíram do carro e começaram a andar apressados atrás da Alice, que disparou para a portaria de entrada. Havia uma fila enorme de garotos e garotas de todas as idades, inclusive muitos adultos. Encontraram vários alunos da escola e alguns da sua turma. Os adolescentes mais velhos começaram a se reunir em grupinhos, dando risadas e comentando para onde iriam nas férias. Este era o primeiro final-de-semana das férias de inverno, mas todos os alunos teriam que ir à escola na segunda-feira buscar seus boletins e passar por avaliações com os professores, portanto, somente a partir de terça-feira estariam realmente de férias, mas isso não mudava em nada o excitamento de todos. Era realmente muito difícil para os mais jovens de onze e doze anos participarem de festas com os outros alunos mais velhos, por isso esta festa no parque reuniu praticamente todo o colégio e uma grande algazarra reinava em frente à portaria.
Após esperarem por quase meia hora conseguiram entrar no parque. Alice, que estava toda animada conversando com Paulinho veio falar com eles.
– Encontro vocês aqui, neste lugar às onze horas. Não se atrasem e não fiquem atrás de mim.
– E quem disse que nós queremos ficar atrás de você? Você que quer ficar atrás deste garoto aí, pensa que eu não sei? – Jaque falou só para provocar.
– Atrás de você que ele não vai, né não?
– Beleza acaba, sabia?
Nesse momento, o garoto que estava esperando chamou pela Alice e está dando as costas para a irmã saiu sem dar resposta.
– É bom mesmo ela ir embora, assim vocês não ficam brigando e a gente pode se divertir. – Kiko olhava para a irmã da Jaque que se afastava. Ele sempre olhava muito pra ela. Todos sabiam que ele nutria uma paixonite pela garota, que simplesmente não notava a sua presença, por mais que ele sempre tentasse dizer frases inteligentes na frente dela.
– Divertir? Vocês já deram uma olhada neste lugar? – Luís perguntou olhando assustado ao redor.

O parque de diversões estava todo escuro, somente iluminado por tochas e pelas luzes dos brinquedos, o ambiente era realmente assustador. Vários atores fantasiados de monstros esperavam os visitantes na porta para assustá-los e existiam outros espalhados pelo parque.
Um Frankenstein com plataformas enormes, apareceu atrás da Luiza, que deu um berro e agarrou o braço do Luís, que também deu um grito de dor.
– Desculpa. – pediu Luiza, sem soltar o braço do Luís e olhando para trás observando o monstro assustando outras pessoas atrás dela e sair dando risada.
– Ai! Alguém pode me dizer porque eu vim aqui tomar susto e ainda paguei por isso?
– Ah! Deixar de ser chato Luís, vamos entrar na fila da montanha-russa. – falando isto, Jaque saiu andando em direção ao brinquedo, olhando ao redor extasiada. Todo aquele ar de terror e mistério era fascinante. Só faltava acontecer um crime de verdade para ficar completo. Claro, nada muito sério porque era vida real e não um livro ou filme. Mas que seria o máximo, seria. Em seus devaneios Jaque sempre se imaginava uma heroína, salvando o colégio e sendo admirada por todos, inclusive por aqueles babões que andavam atrás da sua irmã. Continuou andando perdida em seus pensamentos e só acordou quando percebeu que tinha batido em outra pessoa.
– Garota, não olha por onde anda? Garota desastrada!
Olhando para a frente, Jaque percebeu que tinha batido em um homem baixo e forte, que provavelmente fazia musculação e tinha um ar zangado. Estava apressado e olhando para os lados. Saiu rapidamente, antes de ouvir as desculpas, que Jaque tentava dar sem graça.
– Tava com a cabeça aonde? – perguntou Kiko chegando ao seu lado.
– Ah, sei lá. – respondeu Jaque, abaixando a cabeça para seus amigos não verem que estava envergonhada, eles ririam dela se soubessem onde seus pensamentos estavam.
– E aí? Vamos na montanha-russa? A fila está enorme. E Luiza solta meu braço, já estou ficando sem circulação. – Luiza olhou para o amigo sem graça, mas não conseguiu soltar seu braço, um corcunda com um olho pendendo do rosto e um rasgo na boca estava vindo para seu lado, o que a fez apertar com mais força.
– Ai! Eu preciso de um médico. – gritou Luís.
Kiko e Jaque começaram a rir e puxando o braço de Luiza conseguiram fazê-la entrar na fila do brinquedo. Luís deixou as meninas passarem na frente e ficou atrás do Kiko, por último, esfregando o braço emburrado. Vários alunos da escola também estavam na fila e alguns garotos da oitava série começaram a apontar para eles e a rir.
– E aí ziskis? Vieram visitar seus parentes? – gritou um garoto alto, com o rosto cheio de espinhas apontando um monstro que estava no alto da fila assustando os que entravam nos carrinhos da montanha-russa. Vários garotos e garotas que estavam na fila começaram a rir e a olhar para eles. Uma voz atrás deles respondeu:
– Eeeh! Como ele é engraçado! Só não deve ter espelho em casa, parece um ralador.
Os quatro olharam para trás e viram Raul, um aluno da sexta-série, uma séria acima da deles e para os populares do colégio também era um dos ziskis, mas como fazia parte do time de futebol da escola e jogava muito bem, era mais respeitado. As pessoas que ouviram a resposta deram risadas e olharam para o garoto das espinhas, que bem rápido sentou no lugar vago do carrinho a sua frente, embaixo de mais gargalhadas e gozações de seus amigos.
– Obrigada ! – disse Jaque virando para trás acompanhada dos outros.
– Estes caras são uns idiotas, vocês têm que aprender a responder ou a não ligar para eles.
– Ah, nós não ligamos, intelecto superior. Sabe como é? – respondeu Kiko todo feliz de estar falando com Raul. Kiko adora futebol e não perdia um jogo do time da escola e Raul, na sua opinião, era o melhor jogador, com grande chance de ser profissional.
– Olha, a fila andou. – falou Raul olhando para frente.
Kiko, Luís e Jaque viraram para a frente e se prepararam para andar, mas Jaque teve que cutucar Luiza que estava paralisada de boca aberta olhando para Raul. Ela sempre ficava assim quando ele passava e na aula de computação não parava de suspirar olhando para ele.

Aguardem a segunda parte deste capítulo!!!

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O objetivo deste blog é discutir como aparência não tem a mínima importância e que ninguém deve ser taxado por isto.
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